segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Quintal Paulistano

 Agradeço ao varal, a este movimento dos panos.
 O lençol, a fronha, a toalha, as cuecas, calcinhas e camisetas.
 Esse vento que me trouxe e me leva ao quintal baiano na casa de minha mãe.
 Eu era criança e só queria comer no mato de baixo das arvores, sentado no chão como bicho.
 Queria ser passarinho, e a minha mãe afagava, fingia que não entendia, e pacientemente ia me acalmando, e eu continuei querendo ser passarinho.
 Aqui no quintal paulistano, as coisas se repetem.
 O varal, o pé de pau e os passarinhos.
 Passo horas  a observar suas danças, bater de asas perfeitos como uma dança.
 E eu pisando milho, indo a feira pegar frutas, já sou quase um passarinho.
 Nós somos frutos do meio , e hoje ganhei um presente do abacateiro do parque da Previdência.
 E a Lili descendo o carreiro, abraçou uma árvore belíssima, aqui tudo acontece, quintal paulistano.

Cipriano Souza
Intensidades

A palavra intensidade parece apontar ótimos caminhos para mergulhar numa interpretação do trabalho visual de Cipriano Souza. Sua obra tem na cor uma característica primordial, mas ela não se esgota em si mesma como recurso plástico. A forma de dividir as áreas da pintura, por exemplo, indica para um entendimento próprio do sentido da arte.

Criar, para o artista baiano, é visceral. Não se trata de mais uma atividade humana, mas sim daquela mobilização primeira, inata, que o leva a construir narrativas continuamente, seja pelas imagens, seja pelas palavras em sua conversa encantadora. Cipriano surge como um contador de histórias em que não há fronteiras entre o real e o imaginado.

O impulso que o motiva é de manter a mente em andamento. Provavelmente isso o leva a estar sempre disposto a oferecer ao público novas dimensões de sua própria obra, num processo de busca constante. Pequenos desenhos ou telas de maiores proporções estão nessa mesma dinâmica de não estagnar como pessoa e como artista.

A intensidade do universo de Cipriano Souza se dá num permanente sentir o mundo e devolvê-lo pelas tintas ao nosso olhar. Trata-se de um exercício habitual de combate a qualquer tipo de acomodação. O pensar e o fazer são os pilares de uma existência ergue estruturas visuais densas e alegres.

Oscar D’Ambrosio integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil). É doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp.



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A chuva para Ribeirão de Nagozin


Todos convidados para minha exposição nesta quinta feira dia 25 de setembro as 20 horas.

    Nagozin, meu amigo de infãncia, que saudades.
    Lembra daquelas caminhadas na estrada de areia vermelha, quando aproximava Penachinho, a gente pegava a estrada de areia branca.
    Aquela seca medonha, mas quando era tempo das águas, a gente saia a caminhar, para usufruir do verdume e da belezura, o perfume das flores e sabores das frutas da caatinga.
   Nunca me esqueço daquela tarde na roça de melancia, descemos a serra e fomos tomar banho no ribeirão.
   E hoje, passado um tempo, me tornei um contador de histórias através das cores. Apesar das brigas, como era bom aqueles tempos de porrada, no chiqueiro de cabras do seu Geson, mais macio que tatame e chão firme.
   Fico feliz em saber que Nagozin se tornou um grande rezador, curador de espinhela caída, bucho quebrado e outras enfermidades.
   Acho que os murros que levei na moleira que me fazem voltar a este passado.
   Reze por nós, faz umas garrafadas e reze comigo para o  ribeirão de São Paulo encher.
   Saudades.






"Nagô", nome pelo qual se tornaram conhecidos, no Brasil, os africanos provenientes da Iorubalândia. Segundo R. C. Abrahams, o nome nàgó designa os Iorubás de Ipó Kiyà, localidade na província de Abeokutá, entre os quais vivem, também, alguns representantes do povo popo, do antigo Daomé. O termo proviria do fon anago, usado outrora com o significado pejorativo de "piolhento". Isso porque, segundo a tradição, os iorubás, quando chegaram à fronteira do antigo Daomé, fugindo de conflitos interétnicos, vinham famintos, esfarrapados e cheios de piolhos. Segundo W. Bascom, o nome nàgó ou nago se refere ao subgrupo iorubá Ifo-nyin. Na Jamaica, o nome nago designa o culto de origem iorubá.— Nei Lopes na Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana.