Na boca da navalha, na beira do precipício, o risco é grande e o corte é profundo, e a faca tá amolada.
No corte, de novo, já virou muitos, deitou, amém.
Andando em cima do caco de vidro.
Tô mau humorado!
Cipriano Souza
e sua arte tropical
“viva o povo brasileiro”[1]
Conheci o Cipriano Souza já em São Paulo, junto a outros
artistas reunidos e a mim apresentados pelo também baiano Waldomiro de Deus.
Fomos curtir a Festa do Boi no Morro do Querosene, onde Cipriano mora, ama e
trabalha.
Cipriano arrisca várias técnicas, mas é na pintura que sua
expressão se consolida. Para quem nasceu no sertão baiano, às portas do século
XXI, não haveria sentido em limitar as mídias. Portanto, Cipriano pinta,
“borda”, “chuleia e prega botão”, toca fole e ganzá, filma, conta “causo” e
bate prego.
E, claro, dedica-se à pintura, talvez sua principal e mais
cômoda manifestação. Em
sua arte de ares tropicais se detecta os jogos da infância,
o ludo-lúdico, os modos e as maneiras de ver a vida, um sentir o mundo à la Miró, a colagem da vida e da arte se
manifestando em sintonia. Poderia
falar em “sinfonia de cores”, mas a arte de Cipriano está mais pra xaxado,
farinha e cachaça, patchwork existencial, quadrados imperfeitos, círculos
estrábicos, flores despetaladas, figuras de bichos e coisas pescados na
infância da memória.
Cipriano é isso e muitas surpresas, como baú de guardados,
do qual sempre é improvável prever o que nos reserva, principalmente se
tratando deste baiano despachado pra São Paulo em busca de aplausos e platéias,
mas que aqui encontrou amor, amigos e a liberdade
de criar, ir e vir.
7/07/2010
27/11/2013
Crítico e Curador de
Arte
APCA/ABCA/AICA
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